quarta-feira, 28 de outubro de 2015

GURPS ÆRTH - Capitulo 8

Afastando-se o apressadamente da arcada, os Myrmidons seguiram novamente pelo corredor. Repetiram o processo anterior: andaram até terem uma boa visão frontal e da retaguarda e descansaram. Os magos estavam claramente sentindo o esforço de conjurar feitiço atrás de feitiço e agora precisavam de descanso frequente. Os combatentes, por sua vez, estavam razoavelmente bem. O braço de Hochsend ainda permanecia com aparência cadavérica, com uma cor cinza esverdeada feia - mas o aspecto morto parecia estar desaparecendo gradualmente.

Depois de mais um tempo indeterminado, prosseguiram. "Agora enfrentaremos algo provavelmente relacionado à Terra", palpitou Sodoma. O túnel serpenteava pelas profundezas; fazia curvas por todos os lados, e descia e subia, em curvas leves e fechadas, alternadamente.

Passado mais um tempo, chegaram em mais uma arcada. Mais uma sala. Era quadrada e espaçosa, porém sem pilares. Seu chão era todo feito de blocos quadrados, lajotas, cada uma com um símbolo diferente. Centenas delas. No lugar de um teto, havia uma grade de pedra com espaços que davam ao vazio infindável acima, escuro. Novamente, examinaram como podiam de onde estavam, sem entrar na sala. Novamente dotados de alta percepção, Sodoma e Damon Cook viram um padrão. Explicaram que embora toda sorte de símbolos misticos estivesse representado no chão - símbolos de advertência, runas anãs, marcas rupestres ælficas e sinais celestes - havia um padrão. Em espaços não regulares, mas não distantes entre si, o simbolo Imperial da Terra.

Intuíram que bastaria a pessoa pisar nestas lajotas para passar. Era difícil; observaram com cuidado o diminuto tamanho das pedras. Hagen se ofereceu para ir primeiro. No entanto, ia pisando em um simbolo diferente - o sinal coleóptero de "cuidado!" - quando Sodoma o alertou. Disse para pisar somente no simbolo da Terra. Hagen disse que era exatamente o que ele estava fazendo. Sodoma o corrigiu. Mas o cavaleiro permanecia dizendo o que via.

Então perceberam que estavam em problemas.

Comparando o que haviam visto uns com os outros, Sodoma adivinhou o enigma: alguma ilusão os fazia enxergar as lajotas diferentemente. Isso posto, Alexandros desenhou com a ponta de uma espada no chão como era o simbolo Imperial da Terra, e ao invés de mostrar onde pisar, disse que todos pisassem neste símbolo, conforme estivessem o enxergando. Ao que parecia, era uma rota exclusiva para cada um.
Hagen então decidiu prosseguir, mesmo inseguro. Fortaleceu-se na fé em Tyr, declamando a Litania da Coragem enquanto andava. "Não terei medo, pois o medo é um pedaço da morte. Um homem com medo morre todo dia um pouco. Sem medo, eu morro apenas uma vez. Tyr é a vida. Tyr é a coragem. Sem medo, meus olhos são abertos. O medo deve morrer. Com Tyr, renascerei". Passo a passo, lentamente, Hagen passou para o outro lado e atravessou a sala.

Meio incrédulos pelo sucesso aparente, resolveram apenas "ir logo". Sodoma avisou aos que poderiam voar para que não o fizessem, dado o ocorrido no poço. Siltari seguiu com graça, pisando em símbolos que os outros viam como sendo da morte, runas da água e das plantas. Nada aconteceu. Ela passou para junto de Hagen. Os outros seguiram, um a um. Alexandros, no entanto, desequilibrou-se no meio do caminho e pisou em falso. A lajota onde tocou tinha o símbolo Imperial do Fogo e revelou-se ser estampado em areia movediça: uma lama espessa, grossa e pegajosa. Nela, afundou até o tornozelo e ficou preso. Não conseguia tirar o pé do lugar. Após poucos segundos fazendo força, um barulho veio da grade aberta no teto acima: uma chuva de rochas, cada uma do tamanho de um punho, caia exatamente em cima dele!

Tentou proteger-se, mas não teve muito sucesso. Pedras caíram em seu ombro e perna esquerda, ferindo-o levemente. Por sorte, depois disso o caçador de demônios conseguiu desprender a bota, e, com a ajuda de feitiços dos magos, não pisou em falso mais nenhuma vez.

Porém, isso serviu de aviso aos menos ágeis, que preferiram tomar precauções. Sodoma e Damon Cook encantaram-se com feitiços de levitação, para que ficassem praticamente sem peso, e só então foram atravessar a sala. Mesmo Damon pisando em falso, o feitiço lhe deu leveza o suficiente para que não ficasse preso, e não fosse atingido pelas rochas que caíram em seguida. Sodoma quase caiu uma das vezes, também sendo salvo pela sua magia. Luparus, possuidor de grande agilidade, fingiu não entender o porquê de tamanho cuidado, passando facilmente para o outro lado, sua caminhada pelos espaços pequenos uma tarefa corriqueira para quem costumava se equilibrar em calhas sujas e telhados escorregadios.

Milagrosamente, haviam passado mais um desafio sem incidentes.

Da arcada da saída, o túnel seguia reto. Andaram por ele por mais um bom tempo, e chegaram uma divisão - o caminho separava-se em três. Uma passagem à frente, uma à esquerda e uma à direita. Seguiram pela direita, escolhendo ao acaso. O túnel descia levemente, fazia uma curva para a esquerda, esquerda de novo e terminava em uma porta fechada. Isso fez com que todos ficassem cautelosos. Hagen abriu a pesada porta de madeira, e todos deram de cara com uma escuridão total. Parecia sólida, não sabiam nada o que havia na frente, a luz não passava de alguns centímetros além da entrada.

Certamente não era uma escuridão natural, pois todas as tentativas de se enxergar algo dela foram frustadas. Ela pareceu engolir as luzes quando Hagen colocou sua tocha para dentro da passagem; as trevas tragaram o fogo e sua luz sumiu. E no entanto, a tocha continuava queimando. Sem ver para onde iriam, temeram ser presas fáceis e preferiram testar o outro caminho, ver se os outros lados eram mais seguros. Voltaram por onde vieram e pegaram o caminho da esquerda. Mas parecia inevitável: ao seguir o túnel, que também descia levemente, dobrava a direita duas vezes e também terminava numa porta fechada. E ao forçar essa porta, encontraram a mesma escuridão. Voltaram e checaram então o caminho do meio, com o mesmo resultado. Esse apenas seguia reto e para baixo por uma distância curta, e terminava em uma terceira porta que dava acesso às trevas. Parece que teriam que enfrentá-las ou voltar pelos desafios vencidos.

Sodoma teve uma ideia: pegou uma das poções alquímicas que haviam encontrado na torre do Lorde Octavius, retirou a pílula presa à tampa, jogou no líquido, ativando-a. Instantaneamente, ela eferveceu levemente e acendeu, gerando um brilho intenso, branco e frio como uma lua em miniatura. Com um feitiço de movimento, ele levitou o frasco e o fez entrar na escuridão, como se movido por uma mão invisível. Eles então notaram que o frasco iluminava fracamente o soalho, não sendo engolfado pelas trevas. Parecia um salão sem paredes e teto, apenas com chão - talvez um salão imenso, e a luz que combatia o negrume não chegava aos limites do ambiente.

Conseguindo ao menos ver onde pisavam, decidiram seguir, com o maior cuidado e atenção que podiam dispor. Os Myrmidons foram entrando entrando naquela tenebrosidade, seguindo a luz flutuante e as partes inferiores das pernas uns dos outros. Andavam lentamente, para não perderem essas únicas referências de vista. Sabiam que estavam andando reto enquanto podiam enxergar a porta às suas costas; era estranho... viam a porta de onde vieram e a luz da poção alquímica, e mais nada. Certamente essa não era uma escuridão normal.

E foi assim que foram seguindo, até que o último deles ficasse fora do alcance da porta. Quando isso aconteceu, ela se fechou, com um estrondo. A realidade pareceu torcer-se e dobrar em si, e eles foram cegados por um lampejo brilhantíssimo, um fulgor cintilante como o do sol do verão.

E depois de desorientados por alguns segundos, podiam ver.