terça-feira, 30 de dezembro de 2014

GURPS ÆRTH - Capitulo 3

Com Hochsend se levantando, e com a chegada fortuita de três novos membros, o combate rapidamente se resolve.

Dois eles eram anões: Ronan Brocknock, pertencente aos Myrmidons, vinha acompanhado de Mitrin, um famoso heroi, conhecido e admirado. Saltaram de seus transporte e começaram a cortar goblins com seus machados como se fossem árvores velhas. Eram seguidos por Alexandros Mograine, um caçador de demônios, cuja luz azul fantasmagórica que emana eternamente de seus olhos, brilhava nos gumes das suas duas espadas curvas.

Concomitantemente, Damon Cook olhava para o vazio enquanto se concentrava, e fez chamas brotarem de um pedaço do campo, com foco no ponto que todos estavam sendo sugados... Infelizmente, isso fez com que Mitrin se aterrorizasse, temeroso por ser assado dentro de sua armadura de placas, e teve que ser arrastado por Hochsend, ainda atordoado, para fora da estrada. Enquanto isso, o resto aproveitou a bagunça para matar mais alguns goblins. Os com maior calma e sangue frio notaram que o fogo parecia queimar somente os inimigos.

Siltari Taure passava voando e atirando do alto: suas flechas, alfinetes que prendiam os goblins como insetos num quadro. Hochsend voltava e abria caminho no pequeno trecho de estrada transformado em matadouro. Com o desabrochar das chamas, os gritos de agonia dos vencidos e os brados de batalha dos vencedores foram cessando juntos. O resto da tribo goblin foi então esmagada por ataques em todos os lados, golpes de espadas, machados, lanças e flechas, enquanto eram sugados por uma força mágica e misteriosa, para um único ponto, em chamas, incandescente.

Em pouco tempo restavam apenas cadáveres.

Os poucos tribais que tentaram cercar Siltari, mais distantes, iniciaram uma fuga apressada. Logo foram interrompidos pela elfa, Ronan e Sodoma, que usaram um misto de flechas, machados arremessados e feitiços atordoantes. De quase meia dúzia, apenas dois se renderam e param de fugir. Apenas dois sobreviveram e foram capturados.

Amarrados, foram colocados na carroça. Os Myrmidons não se deram ao trabalho de tirar os corpos da estrada do rei; Luparus examinou o campo de batalha improvisado em busca de algum item de valor, mas encontrou apenas bugigangas de osso, farrapos de couro e armas de pedra e madeira. Tudo arruinado pelo incêndio mágico.

Então, sem mais demoras, decidiram seguir viagem e chegaram na taverna afastada de Tsorvo, a aproximadamente 6 léguas (60km) de distância de Skyfall.





Chamada de Pena e Tinta, a taverna fica a poucos quilômetros do portão principal de Tsorvo. Uma construção grande de pedra, troncos e palha, conhecida pelo fogo amigável queimando na lareira e um bom mingau de aveia, é afastada dos barulhos do centro - o que a faz ser o lugar de escolha dos que querem evitar ser vistos, daqueles que simplesmente buscam mais sossego, ou dos comerciantes que esperam para entrar e sair da vila.

Esta noite, porém, não havia nenhum desses tipos: mais de uma centena de pessoas se aglomeravam no grande pátio onde anteriormente os carroceiros conversavam; agora, um local de desespero. Era óbvio que estes eram os sobreviventes de Tsorvo, fugindo da cidade de algum mal desconhecido. Muitos feridos. Muitas mulheres, idosos e crianças. Poucos homens.

Belly Swan estacionou a carroça o melhor que pode, acalmando os cavalos no meio da multidão. Os outros começaram a perguntar ao redor o que houve, e todos analisaram a situação. Os sobreviventes diziam sobre um "ataque à vila", que veio "do nada" na noite anterior. Os inimigos eram "fogo, fumaça e sombras". Durou boa parte da noite e da manhã, e os que se esconderam preferiram partir ao enfrentar mais uma noite de horror.

Sodoma, usando um feitiço de línguas, conversou com os dois goblins presos sobre essa situação, e eles disseram que também foram atacados em sua terra, como esse povo. Que há quase uma semana, vinham roubando nas estradas para ter o que comer, à caminho de uma nova região mais próspera e pacífica. O necromante então os liberta, mas eles comunicam que preferem acompanhar os Myrmidons. Sodoma conta para os presentes e a maioria nega, sentindo-se insegura com inimigos os acompanhando. Os simplórios tribais então partem em direção à Tsorvo. Ambos se armaram de maneira temporária; enquanto um pegava um pedaço pesado de madeira que seria usado como lenha, outro tomou à força uma muleta de um idoso coxo. Partiram à sua sorte.

Alguns moradores reconhecem Mitrin e pedem ajuda; seus grandes feitos de coragem e valor conhecidos pela maioria. Hochsend se juntou à ele, e, ordenando-os em uma triagem, passou a atender os feridos num posto médico improvisado, entre lonas, tendas, barris e fogueiras espalhadas. Entre os feridos confortados, uma mulher chamada Neuzah pediu para Hochsend procurasse seu filho perdido, Thepes. O cavaleiro assegurou que sim, da melhor maneira que pode.

O grupo então dividiu-se entre tomar conta da carroça e dos seus pertences, e adentrar à Pena e Tinta.

Os que entraram, Luparus, Sodoma, Siltari e Mograine, encontraram uma baderna ainda maior do que do lado de fora. O que parecia ser um conselho formado pelos sobreviventes discutia sobre tudo. Alguns diziam para continuar fugindo, que estavam muito próximos de Tsorvo para estarem seguros. Outros, que deveriam esperar ajuda. Um homem sem uma orelha disse que deveriam voltar e lutar, sendo prontamente vaiado. Uma senhora de cabelos amarrados dizia que deveriam seguir à Skyfall, e implorar ajuda a seu senhor. Era fácil notar que muitos discordavam, nervosos.

Ao notar os tipos estranhos entrando na taverna, o silêncio foi se abatendo. Sodoma e Mograine sentaram-se, mordiscando pedaços de comida como se desinteressados pela algazarra, numa falsa serenidade. Siltari se anunciou como um dos Myrmidons de Skyfall, e pediu explicações. Todos começaram a falar ao mesmo tempo, alguns contando suas histórias, outros, suas perdas. Parte dos presentes se tornou agressiva, dizendo que os cavaleiros de Lorde Carmell estavam atrasados, e pouco a pouco, essa animosidade espalhou-se pelo salão principal, consumindo os sobreviventes como fogo consome palha seca. "Ajudem-nos", era o que alguns falavam, enquanto outros diziam que era "culpa dos nobres", que "não cuidavam de seu povo". Que "Lorde Octavius tinha culpa" do acontecido. Que certamente "Lorde Carmell também, ele devia saber de tudo"... logo estavam exigindo respostas dos Myrmidons!

Sodoma e Alexandros Mograine agiram quase em uníssono. Enquanto o caçador de demônios sacava suas espadas com um olhar ameaçador de luzes azuis, Sodoma fez a cabeça encolhida na ponta de seu cajado relampejar, luzes saindo de todos os buracos, enquanto gritava por "SILÊNCIO!". Foram prontamente obedecidos pelas dezenas de sobreviventes, que, cansados ou covardes, indubitavelmente estavam assustados demais para lutar ou resistir.

Um dos anciões de Tsorvo, talvez o líder desse conselho montado às pressas, deu alguns passos à frente. Tinha a pele curtida do sol e um olhar urgente. Pediu desculpas pelo nervosismo de todos e explicou pouco mais a situação, embora sem grandes novidades. Ele disse que havia ocorrido um ataque, surgido do nada e sem provocação, como se por magia, no meio da madrugada. Originava-se da torre de Lorde Octavius. A vila fora queimada, e quem tentou defender sua casa foi assassinado, combatendo chamas, sombras e brumas. Sem saber o que fazer, fugiram - o melhor a fazer parece ser abandonar Tsorvo para sempre, seja pra Skyfall ou para outras regiões.

Os Myrmidons opinam que o melhor talvez seja seguir viagem à Skyfall, enquanto eles pretendem examinar melhor a vila. Não é uma viagem longa... mesmo os feridos tem uma boa chance de conseguir ajuda por lá. Com isso, desejam boa sorte à todos e partem.



A PROVAÇÃO DE LUPARUS



Enquanto conversavam, Luparus resolveu agir. Fixou seu olhar em um dos homens que insultara os Myrmidons, e, aproveitando-se de um descuido do mesmo, furtou a bolsa de moedas do baderneiro. Amarrou-a ao cinto, e deixou a Pena e Tinta, silencioso como uma sombra. Tinha em mente mais um pequeno acerto de contas. Furtivo, achou simples ir à estrada sem que seus companheiros, distraídos no meio de dezenas de sobreviventes queixosos, o vissem. Logo acho o que procurava - o rastro dos goblins que haviam partido. Curiosamente, eles haviam ido em direção à Tsorvo, e não o contrário. Ele esperou até que as criaturas, que conversam numa língua desconhecida, estivessem num pedaço de estrada deserta. Armado de seu sabre e punhal, saltou das sombras e cravou a arma nas costas de um deles! 

A criatura, pega de surpresa, gritou de dor. Seu amigo empurra Luparus, não querendo mais combater. Ambos parecem não entender a situação. Luparus aproveita esses momentos de surpresa, e faz mais dois cortes no tórax de um deles! Encorajados pela violência, eles então resolvem se defender. Armados de um pedaço de pau e uma muleta pesada, passam a bater em Luparus com rancor.

O ladrão, julgando mal sua força e a armadura de couro e lona dos tribais, logo se vê em desvantagem. Tem certa facilidade para aparar os golpes das clavas improvisadas, mas suas estocadas não conseguem penetrar o couro grosso e fazem apenas pequenos ferimentos nos inimigos. Estes, furiosos, parecem imaginar que Luparus é uma grande colméia de abelhas e disparam pauladas em todos os lados. Em meio minuto de combate intenso, os três estão ensanguentados e ofegantes, os goblins com cortes e lacerações, e Luparus com escoriações e ferimentos nos braços e em um dos joelhos. 

Imaginando-se em desigualdade, Luparus recua para o mato fechado. Correndo, é seguido apenas por alguns passos pelos tribais, que festejam a vitória. Ele, novamente, aproveita o momento para esconder-se entre as árvores. Fica observando enquanto os goblins fazem uma busca rápida por ele, e sem sucesso, seguem seu caminho em direção à Tsorvo. Luparus, então, arremessa uma adaga nas costas do mais próximo, novamente falhando em causar ferimentos sérios. Os goblins o olham com assassínio nos olhos, toda noção de juntar-se aos Myrmidons esfaçelada, e novamente o atacam!

Novamente, o combate é brutal. Luparus, habilidoso com seu sabre, distribui cortes e perfurações aos inimigos. Embora certeiros, esses golpes falham em causar grandes danos. Os goblins, babando de fúria como cães raivosos, passam a agressivamente dar pauladas e mais pauladas em Luparus, acertando em todos os lugares de seu corpo, fazendo chover madeira. O ladrão, como que guiado por vozes celestiais, finalmente resolveu atacar as partes sem armadura de seus inimigos. Em pouco tempo, havia cortado alguns dedos da mão, furado orelhas e pés. Os três estavam terrivelmente feridos, lutando até a morte de maneira animal, mas Luparus conseguiu, finalmente, derrubar um dos inimigos.

Com isso, o goblin restante, sua mão direita inutilizada, deixou cair a muleta roubada e correu para a floresta, como Luparus antes dele. Enquanto o ladrão cortava a garganta de seu parceiro inconsciente, este escondeu-se e fugiu. O humano, muito ferido, resolveu então voltar à Pena e Tinta.

Lá chegando, encontrou seus amigos que o procuravam, preocupados, apenas sua ausência os impedindo de partir. Ele contou aos Myrmidons que foi assaltado por três homens - fortes roceiros ou lenhadores, não sabia dizer - e embora gravemente ferido, evitou que levassem suas posses. Sodoma, irritado, casualmente estendeu a mão, e alguns de seus ferimentos foram magicamente cicatrizados. Temendo algum tipo de represália, seja da população que parecia agora mais hostil ao grupo, resolveram partir. Afinal, Luparus havia, realmente, tomado uma surra.

Seguiram, finalmente, para os portões de Tsorvo.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

GURPS ÆRTH - Capitulo 2

Na noite em que foram avisados de possíveis problemas na vila de Tsorvo, todos os Myrmidons foram às suas preparações de viagem. Ainda nesta noite, dois foram tentar interrogar o goblin preso para mais informações.

O primeiro era Marash-Do, conhecido pelos outros como "Olhos-Frios": um macho do Povo-Gato, já com uma certa idade, e quase sempre portando suas cimitarras gêmeas, seu manto pesado e seu olhar embotado. Sabe-se pouco mais sobre Olhos-Frios do que se encontra à vista: ágil, forte, guerreiro experiente, velho de alma morta. Vinha junto de Sodoma, o necromante. Sempre acompanhado de seu cachorro morto-vivo, um animal de estimação amaldiçoado, o feiticeiro da morte não é visto com bons olhos em Skyfall. Muitos perguntam-se porque um praticante da magia negra seria parte dos Myrmidons, e qual seria o tipo de chantagem ou dívida de favor que ele possui sobre Lord Carmell, a fim desse aceitar sua "presença desgraçada" em seu "nobre grupo de elite".

Juntos, caminharam até as masmorras. Lá estava o goblin preso, ainda a praguejar quando perguntado de alguma coisa. Parecia miserável preso, embora sem sinais graves de violência física. Sodoma, num passe de mágica, a garganta iluminada por dentro, falou na língua bárbara da criatura. Estabeleceu um diálogo que Olhos-Frios não entendia. Após algumas frases trocadas, Sodoma contou que a criatura afirmava não saber de nada sobre o ataque, e que os motivos eram banais: "vocês tem muito, nós temos pouco. Fomos pegar um pouco do seu muito", ele havia dito ao mago de vestes negras.

Olhos-Frios preferiu se certificar e entrou na cela do prisioneiro, buscando a intimidação. Ficou entre o goblin e a porta, abriu o manto mostrando as armas, dizendo que era bom que fossem ditas verdades ou a criatura pagaria em sangue... Infelizmente, a visão de suas armas não serviu como intimidação para o goblin, mas sim como oportunidade. Prontamente, ele pulou em direção à Olhos-Frios, segurando tanto seu cinto como o cabo de sua espada! Olhos-Frios golpeou com as garras em seu ombro, vertendo sangue, mas o inimigo saiu do agarrão portando uma das cimitarras do felino-homem. Sodoma, ao ver a cena, fechou e trancou a porta da cela, dizendo algo ao prisioneiro que Marash-Do não entendeu. Era uma proposta, vinda diretamente de seu asco pela fraqueza: "se você o matar, estará livre."

O goblin não precisava de incentivo melhor, e um combate iniciou-se. Um curto combate, na verdade, uma vez que Marash-Do sacou rapidamente sua espada restante, aparando com dificuldade a primeira estocada do inimigo. Mais dois golpes foram trocados, o som das espadas em choque reverberando nas rochas úmidas do calabouço, até que com um talho certeiro, o representante do Povo-Gato separou a mão da espada do goblin do resto de seu braço. Este, vencido, caiu ao chão em gritos e sangue. Sodoma, com o final do combate, destrancou novamente a cela, e forçando sua vontade mágica, os olhos da cabeça encolhida encrustada em seu bastão longo brilhando, sarou parte dos ferimentos do prisioneiro. Ele havia perdido a mão, é verdade, mas seu pulso estava completamente curado do corte.

Novamente perguntaram sobre o ataque. Sodoma disse que as respostas foram as mesmas, num tom mais desesperado: seu prisioneiro estava fraco, preso, malnutrido - e agora - mutilado. Olhos-Frios o prendeu no fundo de sua cela, numa armação de madeira em cruz, com os punhos e pernas acorrentados e separados. Ao sair, deu um lento e desdenhoso tapa em sua cara, quase um empurrão. 

Convencidos da aleatoriedade do assalto na estrada, partiram.

Fora das masmorras, com diferença apenas em ordem e sequencia, os Myrmidons organizavam-se para a viagem. Desta vez, ninguém de fora os acompanharia, nem mesmo os jovens Nord e Jay - quem seria a responsável por dirigir a carroça e cuidar dos animais era a amazona Belly Swan, também parte do grupo. Belíssima, sua aparência talvez fosse por si só razão da sua permanência no grupo, mas ela também tinha habilidade com a besta e no trato de animais, além de cavalgar melhor do que o melhor cavaleiro de Skyfall.

Tudo pronto, e todos os membros foram em comitiva. Sodoma, Olhos-Frios, Luparus, Damon Cook e Belly Swan na carroça, enquanto Hochsend, Hagen e Siltari Taure foram à cavalo. A ælfa Siltari Taure, uma das poucas de sua raça em Skyfall, foi como a batedora do grupo desta vez. Além de elo de ligação com os ælfos de Eldenurim, região próxima à Norrland, Siltari é, de longe, a melhor arqueira do Norte - talvez de todos os Nove Territórios.

A viagem a Tsorvo então começou, com a duração prevista de meio dia de cavalgada. Em direção à problemas, provavelmente. No caminho, poucas conversas; Belly mostrou-se interessada em seus companheiros, e se tornou um pequeno poço de disputas pela sua feminilidade. Olhos-Frios tentou acompanhar Siltari na vanguarda do grupo, mas logo retornou alegando um mal estar, e pareceu cochilar na carroça logo depois.

E, de fato, encontraram problemas antes do final da viagem. Quase que no mesmo local do ataque dos goblins no dia anterior, poucas horas fora de Skyfall, Siltari notou vultos escondidos nos morros que cercam a Estrada do Rei. Ao mesmo tempo, algo se arrepiou na nuca de Belly, e ela também percebeu o perigo... logo avisou a todos, da maneira mais furtiva que pode.

Siltari avistou uma sombra ao longe, apenas uma sugestão de presença, dezenas de metros à frente e acima, entre a folhagem da colina baixa. Era difícil até mesmo de distinguir, mas ela arriscou atirar uma flecha no local. E como onde Siltari Taure enxerga, Siltari Taure acerta, a trajetória de sua seta terminou em um grito abafado ao longe. Inadvertidamente, o inimigo caído, guinchando, tornou-se o sinal de ataque dos que esperavam: como no dia anterior, mais de duas dezenas de goblins tribais armados desceram da colina, buscando atacar a caravana!

No entanto, encontraram os aventureiros um pouco mais preparados. Diferentemente do dia anterior, estavam com o grupo completo e tiveram algum aviso. Hochsend bradou ordens de combate, pedindo que Belly acelerasse à carroça e fugisse do combate - e então partiu com seu cavalo, esperando que alguém o seguisse. Damon Cook concentrou-se por um segundo, seus olhos brilhando como um caleidoscópio, e então fez a ilusão de uma trincheira aparecer, entre a carroça e o grupo de inimigos. Era funda, com estacas sangrentas no fundo, e esqueletos de goblins mortos feito espetos.

Siltari permaneceu à frente do grupo, fazendo inimigos caírem flecha após flecha disparada. Luparus pediu que parassem, saltou da carroça com agilidade, sacou uma de suas bombas de fumaça escondidas, e seguiu o veículo à pé, ficando na retaguarda. Sodoma, após reclamar da indecisão de Belly, ora acelerando ora freando a carroça, decidiu também por descer do veículo, sumindo inexplicavelmente, após magicamente tornar-se invisível. Mandou seu cão zumbi atacar os inimigos, enquanto desaparecia. O cão, sem expressão, começou a correr.

As criaturas atacavam com lanças e flechas, mas entre ataques que erravam por pouco ou defesas bem sucedidas, ninguém fora ferido. A maioria dos goblins parou beirando ao que julgaram ser uma trincheira real, e ficaram em formação de combate: rosnavam e xingavam em fila, suas lanças apontadas à frente. Finalmente freando a carroça, Belly retirou furtivamente do braço uma pulseira com um pendente de cavalo e a arremessou ao chão; o pendente transformou-se instantaneamente, com pequena explosão de luz e fumaça, em um grande cavalo de batalha de pelagem negra. Era forte e musculoso, com a crina e rabo como ouro líquido e olhos brancos como a lua cheia. Era Sarossu, sua montaria e companheiro mágico. O cavalo correu em um arco, a fim de encontrar-se de frente a linha de goblins parados, atropelando-os da esquerda para a direita. Olhos-Frios, aparentemente sem medo de morrer, saltou de modo a encontrar o meio da primeira fila de inimigos, aparando golpes de lança com habilidade enquanto pousava. No segundo seguinte fez um giro completo portando suas duas cimitarras, atingindo quatro inimigos, cortando troncos e membros num redemoinho de sangue. Na outra extremidade da linha, Hochsend veio cavalgando, bloqueou projéteis com seu pesado escudo anão e acertou inimigos de cima do cavalo como fossem pregos à ser afundados na madeira mole. Tencionava encontrar Sarossu de frente, esmagando a hoste improvisada como um martelo e bigorna. Parecia funcionar.

Sodoma, caminhando invisível, checou o campo de batalha e viu como seus companheiros estavam: viu Siltari Taure começando a ficar cercada, os goblins correndo em sua direção mais rápido do que ela podia acertar com as flechas, ou atrapalhando sua mira forçando-a se esquivar das armas arremessadas; alguns já assomavam-se em suas costas. Viu Belly parando a carroça, com Luparus às suas costas, protetor. Damon Cook continuava dentro do veículo, também analisando o combate pelas frestas das cortinas e lançando um outro feitiço - o "cozinheiro" olhou de maneira alucinada para um lugar não específico do campo de batalha, e o ar daquele local pareceu vibrar, como ondas de calor que formam as miragens do deserto. Essas vibrações transparentes, porém visíveis, começaram a puxar todos ao redor para si; o que de certa forma ajudou os avanços de Hochsend e Sarossu, enquanto impedia a fuga dos inimigos. Era como se tivesse aberto um ralo na realidade, que era sugada lentamente. Também viu seu cachorro desmorto levando um tribal que corria ao chão, comendo-lhe a barriga da perna. O animal não fazia um som. O goblin gritava em desespero.

Sodoma então preferiu então concentrar-se em um feitiço de ataque, um disparo de luz solar no meio da falange inimiga, já combalida pelos ataques de Sarossu, Hochsend e Olhos-Frios. Mirou displicentemente o meio do grupo e lançou o feitiço, seus dedos invisíveis crepitando. O próprio jato de luz tornou-se visível somente ao deixar sua posse. Num azar tremendo, o disparo mágico passou alto por sobre a cabeça dos goblins, atingiu Hochsend na virilha, na junção de seu corpo com seu cavalo. Mesmo sem empregar toda a força da sua magia atrás do raio solar, o golpe era para matar, e queimou gravemente o corpo do cavaleiro, que - em meio à seu ataque de carga - caiu duramente de seu cavalo, com sua genitália em chamas!

Os goblins continuavam a ser puxados para o ponto de concentração de Damon, empurrados por um flanco por Sarossu, que empinava alto, os pisoteando. Seus cascos pareciam em chamas. Olhos-Frios girou suas espadas mais um par de vezes, saltando para longe da formação goblin, já em total colapso. Alguém acertara seu companheiro, e ele não vira quem ou como. Belly sacou sua besta e atirou em um goblin da formação, sua seta enterrando-se no chão, errando o alvo. Luparus continuava na retaguarda, estudando a todos, preferindo afastar-se do combate, ainda segurando sua bomba de fumaça. Ao longe, Siltari deu um giro gracioso no ar, desmontando e desviando de uma lança arremessada ao mesmo tempo, e pousou levemente no chão. Em momentos estava cercada. Abaixou-se, como se pegasse impulso para saltar, e saiu voando como um pássaro, os inimigos olhando em espanto ela longe do alcance das suas facas. 

Hochsend foi arrastado junto dos tribais por um momento enquanto recuperava os sentidos. Postou-se de joelhos com dificuldade, bradando "TYR! Empreste-me sua força!" Em um piscar de olhos, seus ferimentos vazaram luzes e desvaneceram. Parecia renovado, determinado.

E o combate continua...

quinta-feira, 26 de junho de 2014

GURPS ÆRTH - Capitulo 1

Norlland tem um novo lorde.

Sir Herry Carmell, após anos de serviço à coroa como cavaleiro, foi apontado como o novo defensor de Skyfall, após o assassinato da antiga Casa Greenley pelas mãos de escravagistas. Enviado pelo Magnus Rex Harald Hyborne IV, teve sucesso em purgar a terra deste mal, assumindo como recompensa o trono da fortaleza, o cargo de 'Mantenedor do Norte' e a responsabilidade em "pacificar, repovoar e prosperar na região".

Com a segurança, meses de avanço vieram. Povos de vilas afastadas migraram para a terra do novo nobre, onde oportunidades de sair da estagnação parecem abundar. Entre os recém-chegados, pessoas importantes, de várias raças e tipos - mas, principalmente, de diferentes e importantes talentos.

Lorde Herry, ao invés de restringir o acesso dos viajantes, passou a usar a mão de obra extra para fazer crescer Skyfall. Os tempos eram duros e o dinheiro curto: mas onde há vontade, há um meio.

Entre essas pessoas notáveis, Carmell escolheu alguns candidatos à dedo, selecionados por observação (e, dizem em rumores, adivinhação mística) para formar o que hoje são chamados dos Myrmidons de Skyfall: um grupo de elite, não apenas de guerreiros e mercenários, mas de operativos de diferentes talentos para "ajudar Norlland e a Coroa".

Após alguns meses, Lord Herry chamou os myrmidons até a sala do trono - fria, feita de pedra, sem grandes adornos - para sua primeira missão: ir até a vila de Tsorvo, a meio dia de cavalgada, para convidar seu lorde regente para festividades vindouras. Carmell sabe que mesmo após meses de poder consolidado, uma reunião face-a-face com os nobres da região tem seu valor; além, claro, de ser um sinal de respeito e reconhecimento a estes mesmos nobres.

O destacamento escolhido para ir a vila de Tsorvo foi formado por:

Hochsend Von Schutz, metade curandeiro, metade guerreiro, que viveu com os anões do reino de Ærieheim, na vila de Volkurjäheim. Seguidor do código de Tyr, é honrado, proficiente com o escudo e abençoado com o poder de curar com as mãos. Além de um ativo valioso no campo de batalha, é um elo de ligação com os normalmente desconfiados anões de Ærieheim.

Hagen, um paladino de Tyr, também seguidor do código, que veio à cidade com outros do Culto dos Filhos de Tyr, para ajudar Lorde Herry Carmell à manter a paz e a ordem em Skyfall. Além de supervisionar a construção de um novo templo à Tyr, Hagen é um guerreiro forte e vigoroso, habilidoso com as armas, e um dos escolhidos por Tyr para realizar milagres em forma de proezas físicas.

Luparus, escolhido por sua inteligência, furtividade, rapidez e pontaria com o sabre - sua arma pessoal. Sempre é visto com seu macaco de estimação ao ombro; dizem que ele tem algum tipo de ligação com a pequena fera, que parece capaz de entender alguns de seus comandos mais complexos.

E Damon Cook, um ajudante cozinheiro, que ninguém imagina fazer parte dos myrmidons, a não ser eles mesmos. Além de fazer um ótimo ensopado de galinha e ser conhecido pela mais rápida e secreta limpeza de carnes de caça, não parece possuir habilidades dignas de nota. É mudo, com grandes olhos que denotam uma certa loucura.

Todos reunidos na sala do trono, Lorde Herry contou-lhes sobre a festa, acompanhado de Sir Wylliam Payne, o conselheiro fiscal de Skyfall, responsável pelas finanças de Norlland; Sir Derron, seu conselheiro e sábio pessoal - dizem à boca pequena que ele tem consideráveis habilidades mágicas; e de Sargos Grimmwulf, capitão da guarda de Skyfall.

Depois que a missão foi dada, começaram os preparativos. Todos pegaram e checaram seus itens pessoais, armas e equipamentos, certificando-se do necessário para qualquer ocasião. Na manhã seguinte, logo após o desejum, partiram numa carroça com dois cavalos atrelados, e dois serviçais do território - Nord e Jay, com 14 e 12 anos, respectivamente - para manejar os cavalos e ajudar com o carregamento dos itens. Hagen pediu especificamente um cavalo selado, o que foi atendido.

Iniciaram a viagem, e ela percorreu sem problemas. Meio dia de cavalgada significou poucas paradas, apenas para comer e aliviar as bexigas. No final da tarde, chegaram a Tsorvo.

Sendo uma vila menor, a chegada dos myrmidons à Tsorvo não passou despercebida. Guardas no portão os deixaram entrar após uma breve apresentação, e eles certamente foram vistos caminhando em direção a torre de Lorde Octavius, regente do local. Lá chegando, foram recepcionados por Sir Konrad, capitão da guarda de Tsorvo. Apresentações novamente feitas, Konrad disse que já os esperava, avisado por Lorde Herry Carmell via um pombo correio. Depois, lhes mostrou a torre e suas acomodações designadas - pernoitariam no forte. Damon Cook notou quase que instantaneamente que a torre era um território fértil misticamente - de mana alto - por toda sua extensão.

Seguiu-se um breve momento de descanso. Hagen ficou em seu quarto, revezando em se lavar, rezar e se preparar para a janta. Damon e Hochsend pediram uma escolta à Konrad, o que lhes foi atendido, para que Hochsend pudesse examinar melhor as defesas (ou a falta delas) da torre de Lorde Octavius. Passearam brevemente por Tsorvo, e puderam perceber que a vila é simples, porem composta de trabalhadores: parte dela se ocupa com o corte de árvores de uma floresta próxima, comercializando madeira, seiva e ervas simples; outra parte se dedica a produção de grãos e a criação de carneiros. Em geral, possivelmente pelo fato de seu lorde ser um mago procurado por aventureiros, a população parecia acostumada com a presença de estranhos; principalmente armados. A taverna próxima à torre, chamada de Três Estrelas, parecia um lugar aconchegante, mesmo que sem luxos. Mas, principalmente, Hochsend não encontrou falhas na defesa do vilarejo: sim, eles poderiam usar mais homens e armas de sítio, mas com o recursos que possuíam, certamente faziam um bom trabalho. Tudo parecia em ordem.

Enquanto isso, Luparus trancou-se no seu quarto, deitou-se na cama, e trocou de corpos com Garã, seu macaco de estimação. Cansado da linga viagem, foi um tanto difícil. Com o poder de entrar no corpo dos animais, saiu com o corpo de Garã para examinar melhor a torre, de maneira escusa. Escalando a muralha até o topo, viu um senhor idoso no último andar, uma sacada aberta, trabalhando numa mesa repleta de artefatos que ele não sabia o uso. Descendo sem ser visto, rodeou a torre memorizando portas e janelas, e descobriu onde era a cozinha, a área dos serviçais, e principalmente, a sala dos guardas. Os guardas notaram a presença de um macaco, animal raro por aquelas bandas, e tentaram o agarrar por diversão - sendo rápido naturalmente, talvez mais ainda no corpo de Garã - Luparus escapou com facilidade e voltou ao quarto, interrompendo sua exploração.

Na hora do jantar, foram avisados que, finalmente, poderiam se encontrar com o nobre. Lorde Octavius de Tsorvo era o idoso que Luparus viu trabalhando no topo da torre - um lorde conhecido por ser bondoso e um mago competente; e sua mera presença fora suficiente para que os ataques de bandidos, comuns no passado, se tornassem em acontecimentos raros. Junto de Lorde Octavius de Tsorvo estava Konrad, e Yaro, que apresentou-se como conselheiro do território.

No jantar, foram discutidas amenidades para inserir o real assunto: o convite de Lorde Herry à Lorde Octavius para as festividades. Octavius se mostrou surpreso por um convite feito pessoalmente, ou ao menos pela guarda de honra dos Carmell (esse pensamento exposto em voz alta corroborou a suspeita velada dos Myrmidons que haviam sido enviados também como uma menor forma de intimidação e demonstração de poder). Disse que iria comparecer as festividades, que aconteceriam em dois meses - e que iria confirmar sua ida diretamente a Lorde Carmell com uma carta em até dois dias. Lorde Octavius pareceu ser uma pessoa tranquila, inteligente e sem nenhum traço de afetação ou orgulho de seu status.
(No meio de uma conversa sem importância, Luparus pediu licença para ir ao banheiro, porém foi ao seu quarto. Lá, novamente possuiu o corpo de Garã, deixando descuidadamente o seu próprio cair ao chão, e escalou mais uma vez a torre até seu último andar. Explorando-o totalmente na ausência de Octavius, notou que a área deveria ser um observatório de estrelas, com algumas ferramentas em bronze que ele não soube dizer a serventia, mas que pareciam ser medidores e aferidores de algum tipo. No chão, notou um simbolo pintado nas rochas, com tinta azul, uma forma geométrica que não lhe dizia nada. Voltou ao quarto, retornou em seu corpo - a queda lhe deixou com uma leve dor na cabeça - e voltou à juntar-se aos demais no jantar.)
Tal observatório já havia sido intuído por Damon, nas suas andanças com Hochsend. Mudo, Damon lançou, com um feitiço, sua voz na mente de Hochsend, pedindo para que ele perguntasse para Octavius sobre esse fato. Mesmo Hochsend esforçando-se para disfarçar o choque de ouvir a voz que imaginava ser do cozinheiro dentro de sua cabeça, por sorte ou talvez por estar escutando, exatamente no mesmo momento, Lorde Octavius disse sobre seu interesse em astronomia e astrologia, e sua predileção por examinar e registrar o movimento das estrelas. Contou-lhes, de maneira amigável, que era seu passatempo favorito e que havia muito a ser aprendido pelo movimento dos astros. Sem saber o que pensar sobre isso, nada foi dito pelos myrmidons.

O jantar logo acabou e Lorde Octavius se despediu. Disse que não os veria de manhã, e desejou-lhes uma boa viagem. Logo, todos estavam dormindo.

Novo dia, e novo desejum. Repetiu-se a preparação do dia anterior, e ainda no começo da manhã, partiram de Tsorvo em direção à Skyfall. Quase meio dia de viagem se passou, sem problemas.

No entanto, a aproximadamente duas horas de Skyfall, foram emboscados pelo que parecia ser uma tribo de Goblins! Criaturas pequenas, de pele verde, olhos e barrigas saltadas, orelhas e dentes pontiagudos, três dedos em cada mão - portavam lanças, arcos curtos, facas e trajavam roupas simples, de couro cru. Desceram a colina lateral, armas em punho e brado saindo das gargantas!

Hagen era o batedor do grupo, cavalgando dezenas de metros à frente da carroça. Não percebeu os goblins escondidos, e voltou o mais rápido que pode ao ouvir o ataque, com sua lança de justa em punho. No caminho, pediu - "Abençoe-me Tyr, e me dê forças nesta batalha!" - o que foi prontamente atendido pela divindade, aparentemente satisfeita com seu campeão.

Luparus olhou o que pareciam ser uma dezena de goblins descendo a colina e saltou da carroça. Pousou com graça e leveza, sacando seu sabre para o combate iminente. Hochsend desceu pelos fundos da carroça, preparando seu escudo enquanto pedia a Nord e Jay que estacionassem à carroça para uma defesa apropriada. Os meninos, aterrorizados, não só não o obedeceram, como ainda aceleraram os cavalos!

Alguns goblins arremessaram lanças; Luparus se esquivou de uma delas, num rápido rolamento. Outra caiu ao seu lado, fincando-se no chão. Damon observou, ainda dentro da carroça, como os goblins se dispunham, e após um breve momento de foco, teletransportou-se, incógnito, para trás do grupo que avançava!

Luparus sacou rapidamente sua faca pequena, e a arremessou na direção da criatura mais próxima. Ferindo sua perna, o goblin entrou num mergulho e veio às cambalhotas até o final da colina, desnorteado. Outros, mais a frente, posicionaram-se de maneira a parar o retorno de Hagen. Mais lanças foram arremessadas, mas ou erraram o seu alvo ou foram desviadas pelo escudo do paladino. Dois goblins, na retaguarda, revezavam-se disparando flechas contra Hochsend - que, embora conseguisse usar seu escudo como cobertura, tinha o avanço lento pela barragem de projéteis.

Hagen alcançou os inimigos, e perfurou mortalmente um deles com uma arremetida com sua lança de justa, como carne no espeto. Os outros goblins, ao verem isso, deram espaço para sua passagem... não antes que ele transformasse mais um deles em um cadáver.

Hochsend avançou até postar-se ao lado de Luparus, que estava lentamente sendo cercado, enquanto travava um intenso combate com outro goblin - seu sabre ora encontrava o facão enferrujado do inimigo, ora sua armadura de couro. O cavaleiro passou então a defender o companheiro das flechas e golpes o melhor que pode, com seu grande, pesado e resistente escudo de ferro anão. Como se estivesse numa falange, Luparus não foi atingido.

Damon, na retaguarda dos goblins, fez um gesto com as mãos, e criou a ilusão de um grande DRAGÃO em rasante pela colina! Negro, com os dentes grandes como gládios, uma dezena de metros de envergadura, rosnando, acompanhava a descida dos inimigos... o que surtiu um efeito não desejado: os outros myrmidons, sem saber que se tratava de uma ilusão do cozinheiro, prepararam-se para um combate mais difícil e rangeram os dentes, enquanto os goblins entravam em desacordo; um deles, ao invés de disparar outra flecha em Hochsend, atirou em direção ao dragão... e, acertando a frágil construção ilusória, a destruiu! Os goblins comemoraram o desaparecimento do dragão com mais um brado de guerra, e renovaram as esperanças para o ataque!

Hagen largou a lança de justa, e, sacando sua espada curta, saltou do cavalo - que continuou correndo desembestado. Imediatamente foi cercado por cinco tribais, que atacaram sem efeito - ele habilmente aparou as investidas com sua espada e escudo. Luparus também defendia-se do goblin armado de facão com facilidade, e o feria com leves estocadas e cortes. Hochsend voltou a ser alvo dos arqueiros, desta vez com menor sucesso: uma flecha cravou-se fundo em seu flanco esquerdo, no ventre. Agarrando-se à consciência, permaneceu acordado enquanto o seu sangue vazava fartamente.

Damon Cook, ao ver que seu dragão não tivera o efeito desejado, partiu para uma abordagem mais prática. Teletransportou-se novamente para a retaguarda dos goblins, aproximando-se da batalha, e apontando aos céus, fez jatos de luz roxa e verde verterem de seu corpo como um chamariz bruxuleante; tais gotas de luz pousando e atingindo somente os inimigos. O resultado foi devastador...

Em uníssono, todos os tribais fizeram caretas de terror absoluto, gritando, paralisados por um medo irracional e místico. Hagen, aproveitando a oportunidade, girou a espada duas vezes em arcos curtos, mandando dois goblins que o cercavam para sua morte. Luparus perfurou a bocarra aberta de susto do inimigo que duelava com ele, perfurando sua bochecha; um segundo golpe veio para cortar a face do tribal, atordoado de dor e pavor. Hochsend usou então sua maça em um deles, mandando-o ao chão, enquanto defendia-se de mais uma flecha e recuperava-se do ferimento. Vendo a fonte das luzes, um dos arqueiros atirou contra Damon; no entanto, com uma encarada do cozinheiro, a flecha fez uma curva no ar, voltando-se contra seu atirador, e enterrando-se em seu ombro! A visão de um homem que podia devolver flechas com o olhar foi o suficiente para seu amigo, que parou os ataques à Hochsend e fugiu de volta para a mata.

Hochsend pode então dar cabo do goblin que Luparus havia desfigurado - ao mesmo tempo um ato de piedade e finalização de mais um combate. Hagen, parecendo ter a força de quatro homens, abriu, com sua espada curta, mais dois dos goblins atordoados. Tentou nocautear um terceiro com a chapa de sua lâmina: ao ouvir os ossos do crânio da criatura estalar, soube que não teve sucesso.

O combate havia acabado.

Ao olhar ao redor, corpos se amontoavam. Luparus gritou para que Nord e Jay, ao horizonte, parassem a carroça. Ao ouvir seus senhores bem e salvo, desaceleraram. Enquanto isso, Damon ajoelhou-se brevemente no chão, dando impulso para sair em voo, rápido como um pássaro! Os outros myrmidons, ao olharem a cena, se deram conta do porque ele estar no grupo: era um mago, não um mero cozinheiro! Hagen e Hochsend ficaram, especialmente, surpresos com a descoberta. Voando até a carroça, Damon pousou e ajudou os meninos a voltarem. O cavalo de Hagen, no entanto, não estava em nenhum lugar a ser visto e foi dado como perdido.

Hochsend andou pelo campo de batalha improvisado, a estrada pintada de ocre com o sangue derramado dos goblins. Com uma prece à Tyr, removeu a seta de seu flanco, e pareceu sangrar luz por um momento... em um segundo seu ferimento havia desaparecido! Depois, sistematicamente terminou por matar a todos que estavam agonizando. Em seu rastro, Luparus procurava por algo de valor nos bolsos dos vencidos: achou apenas itens de uma sociedade simples, como colares de contas, braceletes de couro e coldres feitos à mão, além de armas feitas de pedra, madeira e aço de má qualidade.

Reunindo-se na carroça, descobriram um goblin ainda vivo, curado pelos poderes de Hochsend. Tentaram interrogá-lo, perguntar porque havia atacado, mas ele respondeu em uma língua desconhecida, talvez proferindo ofensas. Amarraram-no com força e o levaram para Skyfall como prisioneiro. No breve caminho de volta, Hagen pareceu nauseabundo; seja pelo cheiro do tribal ou pelo movimento da carroça.

Ao chegar, foram recebidos pelo Capitão Sargos, e pediram para colocar o goblin nas masmorras, para futura interrogação de alguém que o entendesse. Foram rapidamente atendidos, ainda que alguns guardas tenham debochado das suas intenções, duvidando que um "goblin estúpido" soubesse "qualquer coisa de valor".

Ao entrar no castelo, reuniram-se novamente com Sir Darron e Lorde Herry Carmell, a quem contaram os pormenores da viagem. Lorde Herry pareceu satisfeito, e respondeu que sim, "uma demonstração de poder à Octavius não era de todo mal" - mostrava segurança, colocava certas intenções em perspectiva e - porque não? - demonstrava cuidado e respeito. Lorde Herry deixou então que descansassem, sua tarefa cumprida com sucesso. Hagen e Hochsend passaram rapidamente no calabouço, onde certificaram-se que o goblin era tratado sem crueldade. Deram comida à ele, mas não conseguiram estabelecer algum tipo de contato.


***


Após três dias, foram chamados as pressas a noite para falar com Lorde Herry. Ele, preocupado, pedia que preparassem-se para uma nova viagem na alvorada, pois havia enviado pombos correios para Lorde Octavius, que não foram respondidos. Hoje, seus guardas disseram ter visto grandes fogos refletidos nas nuvens na direção de Tsorvo. Ele teme por um ataque, o qual não saberia explicar o motivo. Seria uma vingança da tribo goblin? Ou seria uma nova ameaça? Lorde Octavius, um mago de renome, não conseguiu se defender? Como tudo se encaixa?