terça-feira, 30 de dezembro de 2014

GURPS ÆRTH - Capitulo 3

Com Hochsend se levantando, e com a chegada fortuita de três novos membros, o combate rapidamente se resolve.

Dois eles eram anões: Ronan Brocknock, pertencente aos Myrmidons, vinha acompanhado de Mitrin, um famoso heroi, conhecido e admirado. Saltaram de seus transporte e começaram a cortar goblins com seus machados como se fossem árvores velhas. Eram seguidos por Alexandros Mograine, um caçador de demônios, cuja luz azul fantasmagórica que emana eternamente de seus olhos, brilhava nos gumes das suas duas espadas curvas.

Concomitantemente, Damon Cook olhava para o vazio enquanto se concentrava, e fez chamas brotarem de um pedaço do campo, com foco no ponto que todos estavam sendo sugados... Infelizmente, isso fez com que Mitrin se aterrorizasse, temeroso por ser assado dentro de sua armadura de placas, e teve que ser arrastado por Hochsend, ainda atordoado, para fora da estrada. Enquanto isso, o resto aproveitou a bagunça para matar mais alguns goblins. Os com maior calma e sangue frio notaram que o fogo parecia queimar somente os inimigos.

Siltari Taure passava voando e atirando do alto: suas flechas, alfinetes que prendiam os goblins como insetos num quadro. Hochsend voltava e abria caminho no pequeno trecho de estrada transformado em matadouro. Com o desabrochar das chamas, os gritos de agonia dos vencidos e os brados de batalha dos vencedores foram cessando juntos. O resto da tribo goblin foi então esmagada por ataques em todos os lados, golpes de espadas, machados, lanças e flechas, enquanto eram sugados por uma força mágica e misteriosa, para um único ponto, em chamas, incandescente.

Em pouco tempo restavam apenas cadáveres.

Os poucos tribais que tentaram cercar Siltari, mais distantes, iniciaram uma fuga apressada. Logo foram interrompidos pela elfa, Ronan e Sodoma, que usaram um misto de flechas, machados arremessados e feitiços atordoantes. De quase meia dúzia, apenas dois se renderam e param de fugir. Apenas dois sobreviveram e foram capturados.

Amarrados, foram colocados na carroça. Os Myrmidons não se deram ao trabalho de tirar os corpos da estrada do rei; Luparus examinou o campo de batalha improvisado em busca de algum item de valor, mas encontrou apenas bugigangas de osso, farrapos de couro e armas de pedra e madeira. Tudo arruinado pelo incêndio mágico.

Então, sem mais demoras, decidiram seguir viagem e chegaram na taverna afastada de Tsorvo, a aproximadamente 6 léguas (60km) de distância de Skyfall.





Chamada de Pena e Tinta, a taverna fica a poucos quilômetros do portão principal de Tsorvo. Uma construção grande de pedra, troncos e palha, conhecida pelo fogo amigável queimando na lareira e um bom mingau de aveia, é afastada dos barulhos do centro - o que a faz ser o lugar de escolha dos que querem evitar ser vistos, daqueles que simplesmente buscam mais sossego, ou dos comerciantes que esperam para entrar e sair da vila.

Esta noite, porém, não havia nenhum desses tipos: mais de uma centena de pessoas se aglomeravam no grande pátio onde anteriormente os carroceiros conversavam; agora, um local de desespero. Era óbvio que estes eram os sobreviventes de Tsorvo, fugindo da cidade de algum mal desconhecido. Muitos feridos. Muitas mulheres, idosos e crianças. Poucos homens.

Belly Swan estacionou a carroça o melhor que pode, acalmando os cavalos no meio da multidão. Os outros começaram a perguntar ao redor o que houve, e todos analisaram a situação. Os sobreviventes diziam sobre um "ataque à vila", que veio "do nada" na noite anterior. Os inimigos eram "fogo, fumaça e sombras". Durou boa parte da noite e da manhã, e os que se esconderam preferiram partir ao enfrentar mais uma noite de horror.

Sodoma, usando um feitiço de línguas, conversou com os dois goblins presos sobre essa situação, e eles disseram que também foram atacados em sua terra, como esse povo. Que há quase uma semana, vinham roubando nas estradas para ter o que comer, à caminho de uma nova região mais próspera e pacífica. O necromante então os liberta, mas eles comunicam que preferem acompanhar os Myrmidons. Sodoma conta para os presentes e a maioria nega, sentindo-se insegura com inimigos os acompanhando. Os simplórios tribais então partem em direção à Tsorvo. Ambos se armaram de maneira temporária; enquanto um pegava um pedaço pesado de madeira que seria usado como lenha, outro tomou à força uma muleta de um idoso coxo. Partiram à sua sorte.

Alguns moradores reconhecem Mitrin e pedem ajuda; seus grandes feitos de coragem e valor conhecidos pela maioria. Hochsend se juntou à ele, e, ordenando-os em uma triagem, passou a atender os feridos num posto médico improvisado, entre lonas, tendas, barris e fogueiras espalhadas. Entre os feridos confortados, uma mulher chamada Neuzah pediu para Hochsend procurasse seu filho perdido, Thepes. O cavaleiro assegurou que sim, da melhor maneira que pode.

O grupo então dividiu-se entre tomar conta da carroça e dos seus pertences, e adentrar à Pena e Tinta.

Os que entraram, Luparus, Sodoma, Siltari e Mograine, encontraram uma baderna ainda maior do que do lado de fora. O que parecia ser um conselho formado pelos sobreviventes discutia sobre tudo. Alguns diziam para continuar fugindo, que estavam muito próximos de Tsorvo para estarem seguros. Outros, que deveriam esperar ajuda. Um homem sem uma orelha disse que deveriam voltar e lutar, sendo prontamente vaiado. Uma senhora de cabelos amarrados dizia que deveriam seguir à Skyfall, e implorar ajuda a seu senhor. Era fácil notar que muitos discordavam, nervosos.

Ao notar os tipos estranhos entrando na taverna, o silêncio foi se abatendo. Sodoma e Mograine sentaram-se, mordiscando pedaços de comida como se desinteressados pela algazarra, numa falsa serenidade. Siltari se anunciou como um dos Myrmidons de Skyfall, e pediu explicações. Todos começaram a falar ao mesmo tempo, alguns contando suas histórias, outros, suas perdas. Parte dos presentes se tornou agressiva, dizendo que os cavaleiros de Lorde Carmell estavam atrasados, e pouco a pouco, essa animosidade espalhou-se pelo salão principal, consumindo os sobreviventes como fogo consome palha seca. "Ajudem-nos", era o que alguns falavam, enquanto outros diziam que era "culpa dos nobres", que "não cuidavam de seu povo". Que "Lorde Octavius tinha culpa" do acontecido. Que certamente "Lorde Carmell também, ele devia saber de tudo"... logo estavam exigindo respostas dos Myrmidons!

Sodoma e Alexandros Mograine agiram quase em uníssono. Enquanto o caçador de demônios sacava suas espadas com um olhar ameaçador de luzes azuis, Sodoma fez a cabeça encolhida na ponta de seu cajado relampejar, luzes saindo de todos os buracos, enquanto gritava por "SILÊNCIO!". Foram prontamente obedecidos pelas dezenas de sobreviventes, que, cansados ou covardes, indubitavelmente estavam assustados demais para lutar ou resistir.

Um dos anciões de Tsorvo, talvez o líder desse conselho montado às pressas, deu alguns passos à frente. Tinha a pele curtida do sol e um olhar urgente. Pediu desculpas pelo nervosismo de todos e explicou pouco mais a situação, embora sem grandes novidades. Ele disse que havia ocorrido um ataque, surgido do nada e sem provocação, como se por magia, no meio da madrugada. Originava-se da torre de Lorde Octavius. A vila fora queimada, e quem tentou defender sua casa foi assassinado, combatendo chamas, sombras e brumas. Sem saber o que fazer, fugiram - o melhor a fazer parece ser abandonar Tsorvo para sempre, seja pra Skyfall ou para outras regiões.

Os Myrmidons opinam que o melhor talvez seja seguir viagem à Skyfall, enquanto eles pretendem examinar melhor a vila. Não é uma viagem longa... mesmo os feridos tem uma boa chance de conseguir ajuda por lá. Com isso, desejam boa sorte à todos e partem.



A PROVAÇÃO DE LUPARUS



Enquanto conversavam, Luparus resolveu agir. Fixou seu olhar em um dos homens que insultara os Myrmidons, e, aproveitando-se de um descuido do mesmo, furtou a bolsa de moedas do baderneiro. Amarrou-a ao cinto, e deixou a Pena e Tinta, silencioso como uma sombra. Tinha em mente mais um pequeno acerto de contas. Furtivo, achou simples ir à estrada sem que seus companheiros, distraídos no meio de dezenas de sobreviventes queixosos, o vissem. Logo acho o que procurava - o rastro dos goblins que haviam partido. Curiosamente, eles haviam ido em direção à Tsorvo, e não o contrário. Ele esperou até que as criaturas, que conversam numa língua desconhecida, estivessem num pedaço de estrada deserta. Armado de seu sabre e punhal, saltou das sombras e cravou a arma nas costas de um deles! 

A criatura, pega de surpresa, gritou de dor. Seu amigo empurra Luparus, não querendo mais combater. Ambos parecem não entender a situação. Luparus aproveita esses momentos de surpresa, e faz mais dois cortes no tórax de um deles! Encorajados pela violência, eles então resolvem se defender. Armados de um pedaço de pau e uma muleta pesada, passam a bater em Luparus com rancor.

O ladrão, julgando mal sua força e a armadura de couro e lona dos tribais, logo se vê em desvantagem. Tem certa facilidade para aparar os golpes das clavas improvisadas, mas suas estocadas não conseguem penetrar o couro grosso e fazem apenas pequenos ferimentos nos inimigos. Estes, furiosos, parecem imaginar que Luparus é uma grande colméia de abelhas e disparam pauladas em todos os lados. Em meio minuto de combate intenso, os três estão ensanguentados e ofegantes, os goblins com cortes e lacerações, e Luparus com escoriações e ferimentos nos braços e em um dos joelhos. 

Imaginando-se em desigualdade, Luparus recua para o mato fechado. Correndo, é seguido apenas por alguns passos pelos tribais, que festejam a vitória. Ele, novamente, aproveita o momento para esconder-se entre as árvores. Fica observando enquanto os goblins fazem uma busca rápida por ele, e sem sucesso, seguem seu caminho em direção à Tsorvo. Luparus, então, arremessa uma adaga nas costas do mais próximo, novamente falhando em causar ferimentos sérios. Os goblins o olham com assassínio nos olhos, toda noção de juntar-se aos Myrmidons esfaçelada, e novamente o atacam!

Novamente, o combate é brutal. Luparus, habilidoso com seu sabre, distribui cortes e perfurações aos inimigos. Embora certeiros, esses golpes falham em causar grandes danos. Os goblins, babando de fúria como cães raivosos, passam a agressivamente dar pauladas e mais pauladas em Luparus, acertando em todos os lugares de seu corpo, fazendo chover madeira. O ladrão, como que guiado por vozes celestiais, finalmente resolveu atacar as partes sem armadura de seus inimigos. Em pouco tempo, havia cortado alguns dedos da mão, furado orelhas e pés. Os três estavam terrivelmente feridos, lutando até a morte de maneira animal, mas Luparus conseguiu, finalmente, derrubar um dos inimigos.

Com isso, o goblin restante, sua mão direita inutilizada, deixou cair a muleta roubada e correu para a floresta, como Luparus antes dele. Enquanto o ladrão cortava a garganta de seu parceiro inconsciente, este escondeu-se e fugiu. O humano, muito ferido, resolveu então voltar à Pena e Tinta.

Lá chegando, encontrou seus amigos que o procuravam, preocupados, apenas sua ausência os impedindo de partir. Ele contou aos Myrmidons que foi assaltado por três homens - fortes roceiros ou lenhadores, não sabia dizer - e embora gravemente ferido, evitou que levassem suas posses. Sodoma, irritado, casualmente estendeu a mão, e alguns de seus ferimentos foram magicamente cicatrizados. Temendo algum tipo de represália, seja da população que parecia agora mais hostil ao grupo, resolveram partir. Afinal, Luparus havia, realmente, tomado uma surra.

Seguiram, finalmente, para os portões de Tsorvo.