quinta-feira, 7 de maio de 2015

GURPS ÆRTH - Capitulo 4

Finalmente seguindo para a cidade, o grupo continua na noite fria.

Hagen seguia na vanguarda, e Siltari como batedora algumas dezenas de metros à frente. Em meio à grande confusão de fugitivos na estrada, a ælfa encontrou o cadáver de um dos prisioneiros recém-libertos, um dos goblins capturados. Enquanto o resto dos Myrmidons passava, ela perdeu algum tempo o enterrando, triste em ver tal desfecho. Quem teria o matado? Ela não sabia, mas a criaturinha estava claramente muito ferida e com a garganta cortada. Talvez tenha sido linchado pela plebe raivosa? Triste, ela fez da melhor maneira que pôde uma pilha de pedras sobre o corpo, um túmulo artesanal à beira da estrada.

Isso pareceu ser mais um mal presságio para Belly Swan. Continuou conduzindo a carroça sem deixar de reclamar e pedindo para que abandonassem a viagem. Ainda assim, persistiram. Logo, os fugitivos tornam-se raros. Depois, findaram. Apenas eles percorreram os últimos quilômetros em direção a vila de Tsorvo. Da estrada descendente, a cidade parecia ficar em um pequeno e largo vale abaixo, como se repousasse no fundo de um prato de sopa e o grupo estivesse descendo de sua borda. Mesmo da distância deste último trecho de viagem, já era possível notar o horror: Tsorvo em cinzas e silêncio, longas espirais de fumaça negra sobre a vila.

Todos juntos, entraram com cautela pelo portão principal. Os guardas estavam mortos. Por onde passaram, cadáveres e casas queimadas. Alguns poucos focos de incêndio permanecem, mas parecia que o pior já passou, ou que eles chegaram tarde demais. Hagen estudou alguns cadáveres. Eles tinham marcas de contusão e queimaduras. Definitivamente morreram em combate. Pareceu que foram mortos com golpes de tochas, ou talvez uma acha em chamas... uma maça incandescente?

Decidem prosseguir imediatamente a torre de Lorde Octavius. Hagen e Yasmin preferiram uma abordagem mais direta, e cortaram pelo meio da cidade, à plena vista. Yasmin é uma ælfa aquática, um tipo raro de ælfo adaptado para sobreviver debaixo d'água, se instalando no leito de rios e oceanos, em vilarejos primitivos. Embora a temperatura da água de Norlland seja mais fria do que ela normalmente prefere, viu como uma boa oportunidade pessoal em servir à Skyfall.

Sodoma, Siltari e o resto dos Myrmidons preferiram levar a carroça por um caminho mais escondido, passando pela periferia e usando a cobertura das ruínas noturnas. Pelos arredores, a visão era a mesma: pelo visto, o ataque chegou em todos os cantos da cidade na noite anterior.

Hagen e Yasmin chegaram, então, ao pátio de entrada da torre. Lá eram presentes os mesmos sinais de ataques e mais corpos. Em frente a escadaria de entrada, no entanto, um homem estava amarrado ao poço de água doce. Estava terrivelmente espancado, porém vivo. Hagen pediu para que Yasmin apressasse os outros. Assim, ela saiu em disparada buscando a carroça.

Era um homem de meia idade, moreno, de sobrancelhas juntas e uma barba de poucos dias. Seu rosto estava desfigurado por um grave espancamento. Acordou de seu desmaio assim que pareceu ouvir a armadura de Hagen se aproximando. Enquanto o servo de Tyr desamarrava seus braços do tronco acima, ele começou a falar, debilmente:

"Não há tempo... Você deve achar o livro de Rosenbaum... na seção de culinária... Não se esqueça... Excelsior. Não há tempo e há mais do que um espelho... eu escondi um, mas não consegui mais... Você precisa avisar..."

Gastou seu fôlego final no estranho aviso. Havia morrido antes mesmo de Hagen o desamarrar por completo. Assim que a vida deixou seu corpo, seu rosto se torceu e mudou, como a água escoando de uma bacia furada. Suas feições de transformaram, e só então Hagen o reconheceu: o homem era o Lorde Octavius de Tsorvo, agora morto.

Enquanto isso, Yasmin encontrou o grupo iniciando a subida à torre, e pediu para que se apressassem. Quando chegaram lá, encontraram o cavaleiro velando o corpo do nobre. Hagen contou o que havia acontecido.

Belly Swan decidiu ficar do lado de fora, cuidando dos cavalos que andavam inquietos. Outros a acompanharam, montando guarda à torre e investigando os arredores. Já Siltari, Sodoma, Damon, Yasmin e Hagen decidiram invadir e investigar a torre.

Dentro do edifício, mais destruição. Móveis queimados e arruinados, estátuas caídas, as tapeçarias parcialmente arrancadas de seus suportes: tudo revirado. O local parecia o cenário de um grande combate já encerrado - marcas de sangue em alguns lugares e o salão principal parcialmente passado à tocha. Os cinco foram diretamente para a biblioteca, como lembravam-se de sua última visita. Ao se aproximarem, ouviram um estrondo vindo de lá dentro, algo pesado caindo. Hagen correu e pôs a porta abaixo com um chute bem colocado, quase arrancando-a de seus gonzos com seu peso.

A biblioteca estava como o resto da torre, uma bagunça. Estantes viradas, livros espalhados, muitos deles parcialmente queimados, outros tantos ainda ardendo. Em frente a entrada, no meio do aposento, o causador de um tudo isso. Um ser feito de sombras, pedra, carvão e fogo, revirando livros!





Seguiu-se um breve e terrível combate. Ao vê-los, a criatura sacou de uma corrente com espinhos; ferro vermelho de um calor não natural. Hagen, orando por Tyr, investiu golpeando com sua espada. Siltari atirava flechas na entidade, a começar pelos olhos. Sodoma e Yasmin prepararam seus feitiços enquanto Damon Cook decidiu se esconder!

Com as flechas de Siltari, apesar de sempre bem colocadas, e com o primeiro feitiço de Sodoma - um raio de luz solar ardente - parecendo surtir pouco efeito, a criatura de chamas e cinzas desferiu alguns golpes contra Hagen, que conseguiu se defender. Quando batia, era como acertar concreto. Até as mãos de Yasmin brilharem num tom cobalto, e seu feitiço de água, um jato de alta velocidade e pressão, atingir o ser. Chiando em meio ao vapor, ele recuou de dor!

Aproveitando-se do momento, Sodoma usou um outro feitiço, dessa vez um de confusão mental na criatura, e ela pareceu atordoar-se. Hagen então fez chover golpes sobre a criatura, fazendo lascas de carvão e fogo espalharem-se pela biblioteca. Daí em diante, foi uma dança ensaiada: Siltari cravou flechas em ambos os olhos do monstro, e depois nos buracos criados pela espada bastarda de Hagen. Sodoma concentrava em manter o feitiço funcionando, enquanto dava espaço para que Yasmin conjurasse mais jatos de água. Em mais alguns segundos e o que restava da criatura eram cinzas e pedras encharcadas, lentamente desmontando-se da configuração humanóide.

Na ruína que a biblioteca se tornara - campo de batalha, revirada por um ser flamejante, jatos de água sendo disparados... - os Myrmidons começaram a busca pela seção de culinária, seguindo o último desejo de Lorde Octavius. Milagrosamente, Sodoma logo a encontrou, e entre os livros Qualquer Um Pode Cozinhar, de August Von Gusteau e Gastronomia Goblinóide, de Jirizz Pepperbasher, estava um nome familiar: Receitas de Rosenbaum. Sodoma olhou-o com atenção, enquanto avisava aos outros. Era um dos livros mais banais e comuns que ele já havia visto - uma capa azul de couro com o título impresso em letras negras e simples. Era um livro pequeno, com cerca de cem páginas. Todas elas em branco.

A ilusão de Lorde Octavius nem pareceu um desafio. Ao falar "excelsior" para o livro, Sodoma viu as palavras se materializarem do nada, revelando parágrafos, capítulos e ilustrações. Dando espaço para todos os Myrmidons examinarem o livro, eles perceberam que o livro era o tratado inicial de Nikko Rosembaum, auto-intitulado matador de demônios, sobre seres que vieram "dos espaços entre os espaços". Descrevia parcialmente criaturas do que Rosembaum chamava de "planos infernais", seus métodos e fraquezas - uma delas, nomeada de "Demônio Antigo", era exatamente igual a criatura que jazia morta na biblioteca. Pelo visto, o autor tinha certo conhecimento, uma vez que ele descrevia o frio e a água como anátema aos demônios antigos, e isso os Myrmidons suspeitavam ser verdade, principalmente depois de testemunharem a eficácia da magia de Yasmin. O livro também continha a "história dos espelhos", onde descrevia algum tipo de portal dimensional.

Decidiram, porém, que ali não era lugar para ler o livro de forma mais extensa. Preferiram sair, falar com os outros, e quem sabe, ir embora para Skyfall. Lorde Octavius estava morto, sua vila destruída, e até mesmo sua torre invadida. Talvez fosse melhor voltarem acompanhados do exército de Lorde Carmell...

Saíram da torre e todos reuniram-se ao redor da carroça, Contaram brevemente sobre o ocorrido, e sobre o que fazer. Parte dos Myrmidons, liderados por Belly, queria deixar Tsorvo. Outra parte queria ficar e examinar mais; Hagen insistia que uma das coisas que Lorde Octavius disse antes de morrer era que não havia tempo. Tempo para quê? Decerto, não para fugir e voltar com reforços.

Enquanto discutiam, viram um movimento no topo da torre. Uma luz se aproximava, como alguém portando uma tocha. Em silêncio, viram quando um outro Demônio Antigo debruçou-se sobre a murada, três andares acima, e olhou diretamente ao grupo. Ele era todo rocha e chama. Ficaram se encarando em silêncio.

Logo, outra criatura apareceu para observar o grupo. E outra. E mais outra.